Corria março do ano de 2004. Era a segunda fase da Copa do Brasil. Em tempo, o São Gabriel já havia eliminado na primeira etapa da competição o Figueirense, time de primeira divisão nacional, e classificou-se para enfrentar o Palmeiras.
O humilde São Gabriel Futebol Clube, treinado por Jorge Anadon, depositava suas fichas na dupla de ataque Luciano Fonseca e Alê Menezes, além da segurança do zagueiro Darzone. Já o Palestra Itália, comandado por Jair Picerni, tinha em seu plantel, além do goleiro pentacampeão Marcos(que estava lesionado), Diego Cavalieri, Lúcio(atualmente no Grêmio), Corrêa, Magrão, Muñoz e Vágner Love. Os jogadores do clube gaúcho eram chamados de mortos de fome pela torcida organizada do Palmeiras.
Pois os mortos de fome avançaram como cães ferozes nos jogadores do time paulista, e logo aos 3 minutos de jogo, Alê Menezes marcou o primeiro gol da partida e incendiou a torcida gabrielense, embora tivessem alguns ainda na fila da bilheteria. Vágner Love era perseguido de perto por Darzone, que atuando como um líbero, tinha a função de não deixar o atacante palmeirense tocar na bola. E assim aconteceu... Então, perto da meia hora de jogo, Luciano Fonseca cruza para a área e novamente o centroavante Alê Menezes antecipa o zagueiro Nen e empurra para as redes do estádio Sílvio de Faria Corrêa.
Começa o segundo tempo, com o time gaúcho fechado na defesa e o alviverde pressionando, porém sem chances concretas de gol. Logo no início da segunda etapa, o zagueiro Alex foi expulso e deixou o São Gabriel com um jogador a menos. Sem deixar a zaga descoberta em momento algum, o clube gaúcho manteve tranquilamente a vitória até os 44 minutos. Corrêa avançou pela direita e cruzou despretensiosamente para a área, porém a bola tocou em Darzone e enganou o goleiro Altieri, morrendo no fundo das redes. Mas este gol dos paulistas não tirou a alegria dos gaúchos, que cantavam o hino do clube nas arquibancadas.
Então o árbitro Lourival Dias Lima Filho, para desespero dos torcedores, levantou o braço e indicou sete minutos de acréscimo, devido as paradas por expulsão e cera da equipe sulina. O estádio tremia, as pessoas tremiam. O jogo parecia interminável até que, aos 51 minutos, numa bola alçada na área do São Gabriel, Pansera encosta a mão na bola e o juiz baiano, sem titubear, marca o pênalti. Magrão ajeitou a bola com carinho, distanciou-se sete passos da bola e correu para bater rasteiro e firme no canto esquerdo do goleiro Altieri. Sim, eu disse canto do goleiro, porque ali ele pulou e espalmou a bola pela linha de fundo.
A bola mal cruzava a risca da linha de fundo, e o goleiro Altieri já era abraçado e festejado pelos seus companheiros e pelos cerca de 500 torcedores que derrubaram a tela e invadiram o gramado. Minha vontade neste momento era de estar no meio do povo, comemorando com o goleiro. Mas no auge dos 13 anos, quando seu pai diz “não”, é o “não” que prevalece.
Ao árbitro nada mais restou, a não ser apitar o final da partida e ir para o vestiário. Se bem que nessas alturas do campeonato ninguém lembrava mais dos sete minutos de acréscimo, tampouco do pênalti marcado, e o juiz poderia ficar por ali curtindo a festa, na comemoração que foi a maior da história do nosso São Gabriel Futebol Clube.
TEXTO PUBLICADO NO DIÁRIO DE SANTA MARIA, DE SANTA MARIA-RS, NO DIA 19 DE FEVEREIRO, E NO CENÁRIO DE NOTÍCIAS, DE SÃO GABRIEL-RS, NO DIA 24 DE FEVEREIRO DE 2010.
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